Do Seminário e das desnecessidades

        Segundo o dicionário brasileiro de língua portuguesa Michaelis (consulta na web), a palavra “ritual” se define por “cerimônia religiosa”, ou “os atos e o conjunto de práticas próprios de qualquer rito cerimonial”, ou ainda “conjunto de regras sociais estabelecidas que regulam certos atos solenes ou oficiais” [1]. Nesse contexto, Hérnan Rodolfo Ulm, doutor em Literatura Comparada pela UFF [2], no Seminário Rituais da percepção: tecnologia, arte e sensibilidade ocorrido no último dia 20 de março de 2018 no auditório do CJA – UFSB, caminhou epistemologicamente definindo “ritual” como sendo “um conjunto de regras observáveis que se efetivam quando seus agentes acreditam no conjunto de regras”. Nesses termos, observa-se com determinada exatidão um dos pontos-chave do discurso desempenhado, suponho eu numa toda concepção de vida, por Ulm sobre a presença de rituais na sociedade e implicações que os mesmos desencadeiam, questões político-culturais delimitam inevitavelmente o fazer artístico e social ao longo dos tempos.
        O Seminário foi embasado numa interessante correlação entre a Técnica amplamente utilizada em obras artísticas e a Estética desencadeante do Modo como tais são produzidas e entendidas. Nesse sentido, ainda se atribuiu à Política a função intermédia na interação entre o Método com o Sensível e vice-versa, na medida em que a mesma se qualifica como indicadora das tensões naturais à vida em comunidade. A tecnologia foi posta na abordagem como pano de fundo para a observação, visto que, a partir deste cenário, houve a democratização do uso de ferramentas (Técnica) para a produção, desencadeando padrões de análise e realização (Estética). Dessa forma, a instantaneidade do mundo contemporâneo, no qual parâmetros e equipamentos estão constantemente mudando, revela modificações não somente na percepção do tempo, como também na forma o sentimos e o utilizamos (ver Figura 1). 
Figura 1 – Tecnologia no mundo contemporâneo. Imagem retirada da internet. Disponível em: < http://uniac.com.br/course/pos-graduacao/gestao-e-governanca-da-tecnologia-da-informacao/ >. Acessado em 04 de abril de 2018.
        Outrossim, a definição de arte foi entendida também como pauta para dissertação no Seminário. Para Ulm, arte é “uma interrupção do fluxo cotidiano das sensações”, e para muitos presentes no dia, tratou-se de uma conceituação adequada e inteligente. De fato, há pouca fuga aos fatos quando faz-se tal determinação, no entanto, verifica-se que tal definição implica em interpretações subjetivas indutoras do debate rico em tensões construídas na especialidade e especificidade das partes envolvidas. Em outras palavras, mesmo que exista um fundo de verdade, a mesma é delimitada pelas circunstâncias próprias a cada indivíduo, o que implica no combate entre egos e personalidades, e não na tentativa de esclarecimento de ideias. Como exemplo, têm-se as polêmicas envolvidas na realização de avaliação entrepar ocorrida no CC PMCA (2018.1) e na exposição de performances e obras artísticas no Museu de Arte Moderna em São Paulo (ver Figura 2) e no Queermuseu (ver Figura 3) no segundo semestre de 2017[3]. As partes envolvidas na discussão, tanto no caso específico à UFSB quanto naquele público ao país, tendem a se dedicar à argumentação improdutiva e desgastante fundamentada em pontos de vistas intrínsecos ao indivíduo, o que, portanto, agrega em nada ao processo de aprendizagem dos estudantes do CC e às problematizações envolvendo cultura e arte brasileiras. São, assim, meras experimentações de tentar provar que suas bases teóricas e conhecimento de mundo representam tudo aquilo que deve ser percebido no debate.
Figura 2 – Performance no MAM. Imagem retirada da internet. Disponível em: < https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/ator-e-mae-envolvidos-na-polemica-da-nudez-no-mam-se-juntam-em-peca-de-teatro/ >. Acessado em 04 de abril de 2018.



Conteúdo Recomendado:

Vídeo do Canal do Slow, integrante do ScienceVlog Brasil, sobre Arte e Incomôdo:


Referências:
1 – MICHAELIS ONLINE / RITUAL. Uol, 2018. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/busca?id=w4Pz0>. Acessado em: 04 de abril de 2018. 
2 – HÉRNAN RODOLFO ULM. Escavador, 2018. Disponível em: <https://www.escavador.com/sobre/454645/hernan-rodolfo-ulm>. Acessado em: 04 de abril de 2018.
3 – INTERAÇÃO DE CRIANÇA COM ARTISTA NU EM MUSEU DE SÃO PAULO GERA POLÊMICA. G1, 2017. Disponível em: < https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/interacao-de-crianca-com-artista-nu-em-museu-de-sp-gera-polemica.ghtml >. Acessado em: 04 de abril de 2018.




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