Visitar o passado é entender o presente

Uma das piores maneiras de se compreender a História é vivendo nela. Nesse sentido, a partir do momento em que existe um intenso contato com os agentes históricos, ou, melhor, quando se é um; quando não é possível perceber com clareza as causas de um determinado ocorrido, mas é até irritante a capacidade das consequências influenciarem na sua vida, isto é, quando a subjetividade é quem manda e aquele que tem juízo cede às exigências, é nesse momento em que entender a História se torna uma tarefa um tanto quanto complicada.

Para um graduando, como eu, que entende o espaço universitário como fértil, capaz de proporcionar aprendizados razoavelmente aplicáveis e que, possuindo um processo sistemático suficientemente organizado, possibilita uma formação profissional e pessoal satisfatória, principalmente quando se cumpre a burocracia da coisa, ter acesso à retrospectiva histórica desse espaço, mesmo não estando num curso tradicionalmente dedicado à temática, trata-se de uma interessante oportunidade. Dessa forma, além do fato de ser possível entender a Universidade como uma instituição historicamente construída a partir de modelos e que, por consequência de sua historicidade, ela possui missões, o estudo da retrospectiva histórica acadêmica dentro do espaço acadêmico revela a necessidade de assumir a instituição de ensino superior como fruto de uma sucessão de acontecimentos, da elaboração de políticas públicas e da análise de carências, mas não só existente porque há de existir. Nesse sentido, o Retrospecto Histórico da Universidade é capaz de mostrar a importância do estudante de graduação se desprender de suas experiências e subjetividade no momento de conceber conceitos e características à instituição de ensino que o forma, chamando a sua atenção para as questões processuais e estruturais acadêmicas. Ou seja, não só os bons ou maus educadores, o coleguismo ou não com companheiros de turma e a existência ou ausência do prestígio externo distinguem a boa Universidade da má, é necessário ir mais a fundo, ir ao passado para formar uma visão do presente o mais fiel à realidade e aos seus aspectos possível.

Além disso, o Retrospecto explicita a engrenagem acadêmica, a qual, ao longo dos tempos, foi exposta a várias mudanças, como exemplo a influência sofrida pela Universidade no século XVIII pelo movimento filosófico iluminista, permitindo o desenvolvimento de uma nova missão dentro desse espaço, a pesquisa. Tal movimento que, a partir de uma análise crítica dos potenciais subsequentes fatos implicados pelo ensino vocacional e sua falta de autonomia e busca pelos saberes fora dos acervos e das limitações impostas à época, insere a veia libertadora e progressista que faltava a maioria das Acadêmicas tem a mesma base “epistemológica” da finalidade proposta pelos estudos acerca dos acontecimentos históricos inerentes à Universidade. Isto é, quase que de maneira metalinguística, a análise da História, em seu desenvolver, nos oferece estrutura suficiente para continuar assim o fazendo. Ademais, nessa investigação vê-se, inclusive, uma intrínseca ligação entre os ocorridos e o que hoje ocorre, em outras palavras, apesar de haver algum tempo que, a exemplo, a formação universitária ter abandonado teoricamente o foco único no ensino, na prática e na atualidade, o capital dentro desse espaço que mais vale se resume no enaltecimento de discussões acadêmicas que nascem e morrem nas mesmas quatro paredes.

Com o propósito de rever a questão da subjetividade interferindo na análise histórica, é preciso ressaltar que, apesar daqueles que se afirmam os mais isentos e imparciais e do que os mesmos exigem quando se toca no assunto, a indissociabilidade entre o historiador ou só o que se instiga a investigar a História, por obrigação ou curiosidade, e o ser historicamente incluso dentro de um contexto, quer dizer, aquele que possui experiências, bagagem e vivências trata-se de um grande e fortemente popularizado na comunidade acadêmica mito. Portanto, quando digo que é difícil viver e analisar ao mesmo passo e, nessa perspectiva, ainda faço correlação com o Retrospecto Histórico da Universidade no mundo ocidental não pretendo cometer o erro citado a cima, no entanto, desejo os atentar para o fato, em pé de igualdade em importância à concepção do mito da indissociabilidade, de que é necessária uma posição crítica e sensata na análise histórica de quaisquer períodos e de que, especificamente sobre a História da Universidade Ocidental, é perceptível o desenvolvimento dessa posição crítica e sensata. 

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