A chamada cultura da vitimização versus pensamento progressista neoliberal: o que está na moda?
A disparidade e a desigualdade
social, a garantia do papel cidadão aos menos privilegiados e a inclusão de
grupos historicamente excluídos fazem parte de um conjunto de pautas
necessárias para a construção de uma sociedade mais justa, que busca pela
equidade, liberdade e felicidade. São esses os elementos que sustentam as atuais
discussões ao redor do globo de forma genérica. Bom, isso teoricamente.
As últimas décadas foram
marcadas por graves crises econômicas, que não só desestabilizaram a qualidade
de vida da população no geral, como também, a manutenção do poder por parte de
alguns grupos políticos e ideológicos. Especificamente nos últimos anos, tem-se
observado, em um significativo aglomerado de nações, o crescimento de uma
posição mais conservadora e neoliberal entre os eleitores, indicando que, para
o senso comum, uma boa alternativa para se libertar das amarras e retrações
econômicas é a manutenção de uma máquina estatal elevada ao mínimo expoente
possível e a rejeição de ideias e pensamentos muito revolucionários. Dessa
forma, uma das novas ordens mundiais é tornar a Amé..., quer dizer, a sociedade
grande outra vez.
Entretanto, o que a educação tem
a ver com tudo isso? Se se a imagina como um conjunto de práticas estritamente
processuais, que possui o objetivo de formar indivíduos preparados para o
mercado de trabalho e que, por sua vez, possuam sucesso nele, então pensa-se
conforme às atuais estratégias para a estabilização econômica. Contudo, caso
exista uma linha de pensamento que se desenvolva a partir da premissa de que a
educação não faz parte de um pacote de medidas necessárias para o benefício dos
números e estatísticas, mas sim, atua transformando sociedades, mantendo a
desconstrução e reconstrução constantes dos saberes e das culturas, assim
valorizando os diferentes tipos de conhecimento e desenvolvendo a quebra de
relações de poder, aí sim toca-se no principal assunto dessa discussão.
A real é que a educação
comumente foi redirecionada a um único contexto e a algumas pessoas. Uma das
poucas formas de acesso à formação educacional se dá a partir essencialmente do
ingresso à sala de aula, enquanto dentro de uma dessas considerada boa estão
contidas massivamente as classes privilegiadas. Ou seja, a educação vista como
prática estritamente processual e que objetiva a preparação para o mercado,
mesmo se for entendida partindo desses aspectos, beneficia unicamente alguns
grupos sociais, que já possui naturalmente benefícios. Aqueles que ingressam
nesse mesmo regime, porém com qualidade inferior ao das parcelas detentoras das
melhores posições socioeconômicas, estudam para se promoverem na disputa pela
mobilidade da condição de vida, e não pelo fortalecimento e valorização dos
conhecimentos de seu ambiente de origem. Isso contando somente os poucos
indivíduos que conseguem passar por esse processo e ainda vencê-lo.
Nesse contexto, os saberes
ecológicos, que compõem conceitualmente o modelo pluriversitário acadêmico
proposto por Boaventura Sousa Santos, configuram uma ideia transgressora, porém
necessária, às atuais percepções acerca de temas tão interligados como educação
e sociedade. Talvez não seja possível, realmente, manter um Estado designador e
paternalista, o qual impeça que alguns seguimentos sociais tenham liberdade de
escolha e não, consequentemente, possuam oportunidades de crescimento
especificas, no entanto, para que haja uma significativa recuperação das
grandes crises enfrentadas nos últimos tempos, é preciso ter responsabilidade e
saber que nem sempre a solução mais óbvia é a que traz mais resultados. Dessa
forma, fala-se, portanto, em compreender o espaço social composto por culturas,
saberes e práticas distintas, que exigem valorização não somente porque exista
um direito que as garante isso, mas também, pois esses aspectos possuem em si,
nos seus naturais processos e métodos, aptidão de ensinar ao estereótipo de
sociedade moderna e superdesenvolvida tradicionais e rudimentares saberes base capazes
de reaver muitos momentos de instabilidade.
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